A cidade de São Paulo é conhecida por seu ritmo acelerado, pela quantidade de carros que por aqui circulam, pela movimentação financeira que encabeça. É conhecida também pela pulsação cultural, por seus teatros e por sua orquestra.
O rio Pinheiros é parte deste cenário em constante crescimento, mas embora tenha sua importância reconhecida, padeceu com o progresso desordenado. Se um dia foi palco para pontos de encontro e lazer do paulistano que nadava em suas águas, o rio assistiu ao crescimento da cidade passando por modificações que comprometeriam sua saúde e futuro, sofrendo mudanças no seu curso, provendo a energia quando foi preciso, recebendo o lixo e o esgoto da população desatenta, para enfim converter-se em prova viva dos malefícios do progresso desordenado.
Mas, seria possível reparar o erro, minimizando os prejuízos impostos ao rio, devolvendo-lhe a vida? A maioria de nós, levados pelo odor e pela cor irreconhecível do que restou do Pinheiros, não apostaria nisso. Afinal, contido por vias expressas e trilhos de trem, o rio era motivo de vergonha. No entanto, o Governo do Estado apostou na possibilidade de mudar essa história.
O Pomar Urbano nasceu em 1999, como Projeto Pomar. Implantado pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, contou com a colaboração de técnicos de diversas áreas e parceiros da iniciativa privada, determinados a transformar as margens do rio Pinheiros.
Seus objetivos eram claros: devolver a vida às margens do rio, promover a educação ambiental e ainda promover junto à população o orgulho e o respeito pela cidade. A iniciativa do então governador Mario Covas completa 12 anos, e conta com o apoio dos diferentes governos que se sucederam, reafirmando a importância e o sucesso do Pomar, agora incorporado à identidade da cidade.
São Paulo continua sendo a cidade da velocidade, dos carros e da cultura. Mas graças ao Pomar Urbano, hoje também é conhecida como a cidade que conseguiu colorir uma de suas mais importantes vias expressas, lembrando à população, que orgulhosa diminui a velocidade para desfrutar do maior jardim urbano, que preservar e recuperar é preciso.
Bruno Covas
Secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo
O Rio e a Cidade
Em tempos coloniais, o principal afluente do Tietê na região metropolitana de São Paulo era conhecido como Jurubatuba – “lugar onde há muitas palmeiras jerivás”. Há ainda os que acreditam que o antigo nome seja uma corruptela para a expressão em tupi que significaria “tardo e sujo”. O nome pelo qual é conhecido hoje foi atribuído ao rio graças à proximidade ao aldeamento indígena Pinheiros.
A história recente do rio confunde-se com a da primeira usina hidrelétrica nacional de grande porte – a Usina de Santana do Parnaíba – que de 1901 a 1906 foi responsável pela circulação dos bondes e a substituição dos lampiões a gás que iluminavam a cidade. Com o aumento da demanda por energia, o rio Pinheiros foi represado através da barragem de Guarapiranga. A crise energética de 1924 precipitou a construção da usina Billings aos pés da serra de Cubatão, possível graças à reversão dos rios do planalto.
A partir de 1926, quando o rio ainda abrigava em suas margens clubes esportivos, com provas de travessia a nado e regatas náuticas, estações elevatórias geravam energia barata em abundância, capaz de prover a industrialização do Estado.
Em 1928, as obras de retificação do rio Pinheiros eliminaram suas curvas, em um processo que se estendeu até os anos 1950. Com o crescente progresso, o rio passou de ponto de lazer a fonte de energia, além de fornecer a areia necessária para a construção da cidade a sua volta.
Com tantas transformações, as margens do rio perderam as matas ciliares e a vegetação natural foi se extinguindo, comprometida pela construção de avenidas. Na pequena faixa de terra restante foram implantadas linhas de transmissão de energia, malha ferroviária, interceptores e emissários de esgotos, oleoduto, cabos de telecomunicações, galerias de águas pluviais e também estradas de serviço para as operações de desassoreamento.
Além das mudanças a que foi submetido, o rio Pinheiros passou a receber esgoto doméstico e resíduos industriais, o que acabou por comprometer a qualidade de suas águas e a sobrevivência da fauna local.
Ingrata, ao crescer a cidade deu as costas para o rio.