A energia das plantas nem sempre é bem utilizada e que muitas vezes corremos o risco de chegar perto de uma árvore, que em lugar de propiciar conforto, pode nos deixar tensos ou, até, nos tirar as forças. Buda depois de ter ficado sob a sombra da figueira que o ajudou no processo de iluminação tinha por hábito meditar embaixo das mangueiras, estas mesmas mangueiras que hoje fornecem os caroços dos frutos, para ajudar nas artes adivinhatórias, na Bahia.

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As árvores mais evoluídas são, sem dúvida, aquelas que de alguma maneira, pode nos dar algum tipo de suporte para nossas necessidades  menos materiais; por exemplo, não é interessante buscar energias em um pinheiro, mas com certeza vamos encontrar muita afinidade em um cajueiro que é uma árvore completa, com frutos bem definidos. Da mesma forma que os animais, as plantas andaram por um longo caminho até chegar aos nossos dias com a forma atual; dizem, e eu também acredito que o cachorro é o melhor amigo do homem, como também é o gato e o cavalo, todos os animais com grau evolutivo bem desenvolvido, parecem até que caminharam junto à raça humana em uma procura de perfeição.

Com as plantas aconteceu uma coisa parecida, primeiro aparecem os musgos, os liquens, os cogumelos, depois as samambaias, e só bem depois surgiram às árvores e as flores mais complexas e completas como a ameixeira, a cerejeira ou aquelas papoulas bem vermelhas que Goethe, o escritor e filosofo alemão, descobriu que emitiam um brilho estranho de suas pétalas no crepúsculo. Agora vejam bem, da mesma maneira que a gente escolhe um cachorro ou um gato como bicho de estimação e rejeitamos baratas ou aranhas, também, devemos saber escolher nossos amigos verdes.

O Eucalypto é um caso típico, no início do século passado era uma árvore desconhecida e crescia apenas na Austrália. Na Tasmânia, onde existiam por volta de 500 espécies diferentes. Nas ilhas de Timor e Nova Guiné se originou, também, umas poucas quatro ou cinco variedades.

A partir de 1840, 1850 começaram se espalhar pelo mundo inteiro, se adaptando facilmente em lugares frios, nos trópicos, na montanha, enfim, por todos os lados, impondo, inclusive, sua presença em detrimento de espécies nativas, que morriam por não conseguir conviver com uma árvore que tem característica de rejeitar qualquer coisa viva perto dele; na sua copa dificilmente posa um pássaro ou uma borboleta; a terra fica seca, exaurida, nem a tiririca, que é uma erva ruim, consegue sobreviver perto do eucalipto; vocês sabem que a essência se usa para combater resfriados, lógico que até os germes morrem.

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Bem, eu diria que assim como o coqueiro meigo e gostoso, o eucalipto é rígido, vejam vocês, que em uma tormenta é o primeiro a cair, o que mostra a falta total de flexibilidade e adequação.

Portanto, aqui vai uma dica: a energia do eucalipto só pode ser uma coisa boa para aquele que precisa ganhar rigidez e que goste de solidão.

 

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Há quarenta anos decidi morar aqui, no Brasil, ou para ser mais exato com as palavras, viver neste país; já que viver, significa aproveitar nossa existência e não, apenas, ocupar um espaço como é o caso daqueles que habitam ou residem num lugar qualquer. Meu sonho era usar as plantas tropicais que, até esse momento, conhecia de forma bastante limitada; ansiava por tê-las nos meus projetos e dessa maneira criar jardins menos sisudos e mais bucólicos.


Parecia-me fantástica a ideia de poder embrenhar na Mata Atlântica e ver de perto a flora mais diversificada do planeta, sabia que os biomas brasileiros nutriam 56.000 espécies nativas, um número colossal se comparado ao de outras regiões dos cinco continentes; nessas florestas, no cerrado, na caatinga e em outras formações complexas e litorâneas vivem 11% de todos os pássaros do mundo, além de 37% dos répteis, 61% dos anfíbios e 35 % dos primatas; mas não é só, 3.000 peixes diferentes são amparados pelos rios deste país.

Pena que esses mesmo cursos d’água estejam hoje muitas vezes, com suas margens assoreadas e suas águas poluídas; só no Estado de São Paulo foram devastadas 70% das florestas de Mata Ciliar, algo assim, como 120.000 km de bordas d’água destruídas (três vezes a circunferência da Terra); para recuperá-las seria necessário o plantio de meio milhão de mudas, que crescem, habitualmente, em terrenos periodicamente inundados.


Pergunto: até que ponto nós os paisagistas, somos obrigados a sermos criativos? Por que em cada projeto precisamos desenhar um jardim único e incomum?

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Bem, seguramente porque escolhemos uma atividade que nos obriga a produzir a partir de um vazio. Temos que dar existência a algo que antes não aconteceu; onde não era nada. Esse vazio esse espaço tem, por assim dizer, uma vocação, assim como, uma tendência natural para receber uma determinada vegetação, seja pelo tipo de solo ou pelo clima onde está localizado. O terreno baldio que receberá esse jardim deverá ter uma personalidade que a diferencie das demais; será uma construção viva que irá representar a história e o folclore do lugar geográfico, onde está localizado; não seria coerente reproduzir uma paisagem francesa no sertão pernambucano ou, um jardim Zen budista em um barzinho da pauliceia. No primeiro exemplo, porque estaríamos negando a rica floresta de Bonito, com suas cachoeiras deslumbrantes; o Vale do Catimbau e sua flora característica e as praias de Porto de Galinhas que serviriam de inspiração, sempre que pensemos em algo impar e genuinamente pernambucano. Se vamos projetar uma área verde em nesse estado, porque não buscar inspiração nesses locais citados? Por que pressupor que aquilo que vem de fora é mais chique? Para imitar o estilo francês precisaríamos ser como eles, sentir como eles. Os jardins de Versalhes, de Vaux-le-Vicomte e do Château de Chenonceaux são o resultado de uma época onde o barroquismo impunha traçados cheios de artifícios e plantas excessivamente podadas, para demonstrar o poder do reino sobre tudo e sobre todos, inclusive sobre a natureza. Será que, desde o ponto de vista socioeconômico, isto tem a ver com a gente?

No segundo exemplo nos deparamos com algo deplorável que, infelizmente, é bastante comum, e é essa coisa de reproduzir um jardim pleno de misticismo, em um local aonde as pessoas vão para se divertir; ninguém frequenta um barzinho para meditar, pessoa alguma vai alcançar o satori, que é o estado de iluminação profundo e verdadeiro do budismo, com um copo de cerveja na destra. Paisagismo também é cultura, e o respeito é uma prática social inerente a ela. Imaginou entrar num botequim em Tóquio e encontrar símbolos cristãos fazendo parte da decoração? Pois é, não dá para supor um mau gosto desses.

Voltemos ao tema. É impossível dissociar criação de originalidade e esta originalidade não significa fazer sempre jardins singulares, mas sim, sermos singulares utilizando a matéria prima essencial: a planta. Um projeto paisagístico impar é notável quando expressa exatamente o pensamento do criador, que representou o aparecimento de algo único, considerando o pendor desse espaço, sua situação e as circunstâncias que permitiram delinear uma paisagem de produção pessoal.

O paisagista brasileiro precisa declarar sua independência. Assim como em 1822 nos emancipamos do colonialismo português, hoje é necessário libertarmos das ideias que nos chegam de fora; devemos vasculhar fontes de informação observando: nossa flora, nossos hábitos, nosso folclore pleno de personagens, valorizando nosso Curupira e deixando de lado celebrações que não tem nada a ver com a gente, como é o caso do halloween.

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É uma questão de autoestima. Como não sentir estima pela flora mais rica do planeta? Como não sentir estima pela arte de nosso país?

Experimente o gostinho de nossa paisagem.

 

Contato:

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“Impossível exprimir os sentimentos que dominam o observador enquanto os seus olhos contemplam o cenário lindamente variado que se apresenta a entrada do porto, cenário talvez sem rival na face da terra, e em que a natureza parece ter exaurido todas as suas energias. Tenho visitado desde então muitos lugares famosos pela beleza e magnificência, mas nenhum deles me deixou na mente igual impressão. Até onde à vista alcança na baia, belas ilhas verdejantes e cobertas de palmeiras se viam surgir da espessura, enquanto as colinas e altaneiras montanhas que a circundam, douradas pelo sol poente, formavam uma moldura adequada a tal quadro. À noite as luzes da cidade produzem belo efeito, e quando a brisa da terra começou a soprar, trazia em suas asas o delicioso aroma da flor da laranjeira e outras flores perfumosas, que me deliciavam tanto mais por haver estado tanto tempo privado da companhia das flores. Ceilão tem sido decantada pelos viajantes por causa de suas especiarias odoríferas, mas eu já entrei duas vezes em suas praias quando soprava a brisa de terra sem experimentar nada que se comparasse as doçuras que me acolhiam a chegada do Rio”

George Gardner, Superitendente dos Jardins Botânicos Reais, de Ceilão.

 

O autor deste texto, escrito no dia 22 de julho de 1836, quando o navio em que viajava, se preparava para ancorar na Baia de Guanabara, ficou no nosso país até 1841 e como naturalista fez uma série de pesquisas botânicas, patrocinadas pela Rainha Victoria, que iniciava seu reinado naquela época.

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Sinceramente, não imagino qualquer tipo de entretenimento ou de lazer na Roma Antiga, na era Victoriana ou mesmo, recentemente, durante o primeiro governo de Getúlio Vargas, nestas terras tupiniquins. Sei que nesses períodos históricos, muita gente se dava “bem” podendo praticar uma ociosidade crônica, graças à posição social ou a realeza a qual pertenciam. Mas não é deles que estou falando e, sim do pobre proletário que vivia de um salário miúdo e, também, dos camponeses que por serem carentes de urbanidade não tinham a menor idéia sobre passatempos ou descansos.

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Tujas, pinheiros, ciprestes e outras coníferas do Hemisfério Norte, especialmente aquelas que compõem a flora alpina, na Europa, são as preferidas dos brasileiros.

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Por Raul Cânovas

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Há momentos em que gosto mais de árvores do que de pessoas; elas são inconscientes e inconseqüentes, até diria que, um pouco freudianamente, vivem a partir da semente um mundo de sonhos, ignorando o tempo e o espaço, fincando suas raízes pelo puro prazer de bolinar o barro e parindo folhas que, mais tarde, poderão sangrar uma seiva poluída e desnutrida.


Raul CanovasArgentino, paisagista, escritor, professor e palestrante. Aos 13 anos, projetou seu primeiro jardim em Olivos, província de Buenos Aires. Entre 1960 e 1963, fez estágio com renomados profissionais: Leonard Wolff, Pablo Loewe, Arend Gerritsen e Alejandro Vitale.

 


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