Benedito Abbud - Inspirações e Inspiradores


 

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Luciano Fiaschi foi o primeiro. Estagiei em seu escritório, ainda em 1970, no final do meu primeiro ano de Arquitetura. Comecei desenhando a lápis, aprendendo a girá-lo para que o traço saísse na mesma e constante espessura, raspando o papel vegetal para apagar ou corrigir desenhos feitos a tinta nanquim. A transparência desse papel permitia a passagem da luz, que por sua vez não conseguia atravessar a negra e opaca tinta, possibilitando a reprodução através das cópias heliográficas reveladas com o malcheiroso amoníaco.

O transparente vegetal permitia que copiássemos desenhos “montados” a lápis em papel manteiga. Esses desenhos eram ”passados a limpo” com tinta nanquim colocadas em canetas importadas graphos ou nas mais modernas oxfords, mas ambas entupiam constantemente exigindo paciente desmontagem para limpá-las e lavá-las.

Exemplo de caneta graphos

Praticamente já não “peguei” mais o uso da régua T, material ainda exigido para a prova do meu vestibular. Apoiada na lateral da prancheta pelo lado menor, ela deslizava, depois de muita prática, permitindo que seu lado maior corresse paralelamente na horizontal. Já comecei com a revolucionária tecnologia das réguas paralelas, que presas por cordões cruzados em roldanas, permitiam que elas se prendessem à prancheta e, num leve toque, corressem para cima e para baixo sempre de forma paralela, tornando muito mais fácil o apoio dos esquadros para o traçado  das verticais e linhas inclinadas.

Réguas T

O escritório era “moderno”, fazia pranchas escritas à mão, e não nos tradicionais morosos e cruéis normógrafos de aranha ou de reguinhas furadas. Para que as letras de fôrma ficassem no padrão, treinávamos horas e horas essa caligrafia especial, entre dois riscos paralelos horizontais, que eram guias para padronizar o tamanho.

Foi nesse ambiente, entre desenhos de detalhes construtivos e plantio, com suas enormes tabelas com nomes em latim de vegetação; entre giletes, borrachas de areia, borrões de tinta, o cuidado para o cafezinho não cair na folha quando o desenho estava quase pronto, benzina para tirar a gordura das mãos no papel, aprendendo a enrolar a prancha ao contrário para que o papel não enrolasse novamente na hora de mostrá-lo ao cliente que descobri o fascinante universo do paisagismo...

 

Mais informações: www.beneditoabbud.com.br

 

Foto: Nicola Labate