A principal revista eletrônica de Arquitetura Paisagísticado Brasil !

Entrevista com o arquiteto Reinaldo Pestana, responsável por projetar o bairro Alphaville


Alphaville - como tudo começou...

     Na década de 60, os engenheiros e também ex-colegas da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Yojiro Takaoka e Renato Albuquerque, administravam a construtora Albuquerque Takaoka, uma sólida empresa responsável por grandes empreendimentos no estado de São Paulo. No início dos anos 70, Takaoka e Albuquerque decidiram que era hora de inovar e expandir os negócios. Eles perceberam que era o momento de investir em uma área fora da grande SP - já que a capital apontava os primeiros sinais da falta de terrenos - que pudesse abrigar grandes empresas não poluentes. Numa antiga fazenda que se estendia do município de Barueri até Santana de Parnaíba, em um terreno com mais de 5 milhões de metros quadrados, eles acabaram adquirindo a Fazenda Tamboré, localizada ao lado da Rodovia Castello Branco e cerca de 23 quilômetros de SP.

Alphaville_dcada_de_70

Alphaville na década de 70

     Em 1974, graças ao trabalho estratégico, o espaço disponibilizado para atrair as empresas começava a dar os primeiros resultados através da instalação da multinacional HP, que adquiriu uma área com mais de 20.000 metros quadrados. “O Takoka não estava satisfeito somente com a vinda do pólo industrial, pois ele também queria trazer para a região, uma área residencial que pudesse ser utilizada como moradia principalmente pelos funcionários dessas empresas e quem mais se interessasse”, afirma Pestana que ainda ressalta que a ideia a princípio parecia inviável: “Como iríamos construir um condomínio com lotes as margens do rio Tiête? Quem é que teria interesse em morar em um lugar como aquele?”, indaga. 

Entrada_Castello_dcada_de_80

Entrada 26B da rodovia Castello Branco, década de 80

Entrada_Castello_26B_atual

Entrada 26B da rodovia Castello Branco atualmente    

Alphaville_Godard     Muitas pessoas ainda não imaginam de onde possa ter surgido o nome do bairro. Segundo Reinaldo Pestana, ele e seu sócio José Almeida Pinto, que já faleceu, sugeriram a Takaoka que o lugar deveria se chamar Alphaville, inspirados na película de mesmo nome, do francês Jean-Luc Godard, considerado um dos cineastas mais consagrados de todos os tempos. O nome foi aprovado. Após alguns estudos e depois de avançar nos projetos do Alphaville Industrial e Empresarial, acabaram criando o primeiro residencial de Alphaville que se chamava Alphaville Residencial, conhecido atualmente como Residencial Alphaville 1. 

     O primeiro residencial a ser criado com 1.200 lotes foi um sucesso de vendas. “Obviamente que devido aos bons resultados, decidimos projetar o residencial 2, que não teve o mesmo sucesso pelo fato de ter lotes maiores, e portanto, mais caros. Chegamos a conclusão de que o Residencial 1 foi bem aceito devido as facilidades no pagamento, já no Residencial 2, a inflação na época era violenta e o preço dos terrenos aumentaram consideravelmente”, relembra Pestana.

alphaville_1

Portaria do Residencial 1, o primeiro condomínio de Alphaville, com 1.200 lotes

Com o passar do tempo, perceberam que ainda seria possível expandir ainda mais o número de residenciais, pois a região não parava de crescer. “Daí, criamos os Residenciais 3 e 4 com lotes menores e um valor mais acessível”, informa Pestana.

Alphaville_2

Portaria do Residencial 2

O resultado foi melhor do que o esperado. “As pessoas chegavam nos demais residenciais e achavam que deveriam comprar 2 lotes de uma vez para ficar com um terreno maior, foi neste momento que os corretores começaram a indicar os grandes terrenos do Residencial 2, alavancando as vendas ”, explica Pestana.

Residencial_Alphaville

Os residenciais de Alphaville são famosos por abrigarem luxuosas mansões

     O sonho de Takaoka tornou-se realidade. A intenção previa chegar até o Residencial Alphaville 15, porém, o último a ser lançado foi o Residencial 12. O curioso é que não há o Alphaville Residencial 7, que chegou a ser aprovado e não saiu o papel devido a alta inclinação dos lotes, porém, existe o Residencial Zero e a história deste residencial é bastante peculiar, pois, eles não queriam que o terreno localizado no início de Alphaville fosse classificado como Alphaville 15, e numa reunião entre as cúpulas, surgiu a ideia através de um comentário de brincadeira: “Já que não pode ser chamado de Alpha 15, só pode ser chamado de Alphaville Residencial 0”, e a brincadeira se transformou em realidade. A proposta do bairro estava no caminho certo: infraestrutura completa, muita área verde e segurança. “As primeiras pessoas que se interessavam em comprar seu terreno e construir sua casa em Alphaville, tinham como objetivo morar junto a natureza, garantindo uma vida segura e tranquila junto à família. Muitos anos depois a finalidade de quem escolhe o bairro para viver, continua a mesma”, ressalta Pestana.

     Assim como Alphaville, o bairro Tamboré, que também foi implantado por Reinaldo, cresceu acima do esperado, abrigando inúmeras empresas, centros comerciais e vários residenciais.  

Tambore3

Tamboré 3,  o condomínio mais imponente da região

“Entre Alphaville, Tamboré e Aldeia da Serra, eu diria que a Aldeia é sem dúvida o projeto que eu mais gostei de implantar, por ser mais bem planejado e aquele que de fato atingiu as expectativas de Takaoka. Ele queria que o lugar fosse uma espécie de cidadezinha do interior e quem conhece a Aldeia, sabe do que eu estou falando”, relembra o arquiteto.

Tambor

Belíssimo pôr-do-sol no residencial Tamboré 10

     De fato, ele está certo, pois a Aldeia, situada no topo da serra, a 1.100 metros de altitude, possui cinco condomínios e dois prédios, ambos residenciais, rodeados de muito verde e um clima privilegiado, com tranqüilidade e segurança.

Vista_area_Aldeia_da_Serra

Aldeia da Serra abriga inúmeras mansões coloniais, inclusive de artistas e celebridades

     Em meados da década de 80, Reinaldo percebeu que o bairro tinha a necessidade da criação de um centro comercial, devido as inúmeras dificuldades dos moradores e empresas, que tinham que se deslocar para outros locais para fazer suas compras. Foi aí que surgiu a ideia de construir o Centro Comercial Alphaville, considerado como um dos maiores conglomerados de comércios e serviços da região Oeste de SP. “Quando projetei o Centro Comercial Alphaville eu previ edificações de 30 m² coladas uma nas outras. Atualmente a Prefeitura jamais aprovaria nessas especificações”, explica o arquiteto. Em pouco tempo surgiu também o Centro de Apoio I e II, 18 do Forte Empresarial, entre outros.

CCA

Centro Comercial Alphaville, um dos maiores pólos comerciais da região Oeste de SP

Alphaville - um bairro metrópole

     Atualmente, a realidade é outra. Alphaville possui, além de empresas multinacionais e nacionais, agências bancárias, lotéricas, supermercados, academias, cinemas, clínicas estéticas, entre outras opções. Em abril de 2011, o bairro recebe um dos complexos mais luxuosos do país: o shopping Iguatemi Alphaville, que vai abrigar 3 pisos de lojas e 1 de lazer, cuja arquitetura estará integrada perfeitamente com o paisagismo.

Alpha_area

Alphaville recebe cerca de 160 mil pessoas diariamente, seja a trabalho ou a lazer

Valorização do paisagismo 

      Por falar em paisagismo, Reinaldo Pestana é enfático. “Alphaville não teve um projeto de urbanização, tampouco de paisagismo” e ainda ressalta: “O conceito e a valorização do paisagismo aumentou muito há alguns anos. Não são mais apenas os profissionais que passaram a valorizar essa questão, o cliente final também. O paisagismo dá lucro e demorou muito tempo para se perceber isso”, enfatiza. Pestana acredita no potencial do paisagismo, tanto assim, que em muitos de seus projetos ele fez questão da presença de um paisagista. “No Residencial Gênesis e no Alphaville Burle Marx, por exemplo, priorizei, sobretudo, o projeto de paisagismo para conceitualizar o empreendimento e para levar ainda mais qualidade de vida aos seus moradores”, afirma.

Mari-Polesi     A valorização dos projetos de paisagismo têm sido cada vez mais tangível em Alphaville, é o que afirma a paisagista e designer de exteriores Mari Polesi, referência única na região. "A cada dia que passa cada vez mais os moradores de Alphaville, Tamboré e Aldeia da Serra, têm valorizado o paisagismo e isso não está restrito apenas aos ambientes residenciais, uma vez que a procura pelas empresas, também têm crescido muito, afinal, todos merecem desfrutar do contato com a natureza", ressalta Mari, que tem como meta, transformar os espaços, deixando-os mais aconchegantes, alegres, funcionais e inspiradores, principalmente na hora de receber familiares, amigos e clientes.

Sinônimo de qualidade de vida     

     A segurança, infraestrutura, privacidade e o clima de interior, fazem com que Alphaville seja sinônimo de sucesso no quesito qualidade de vida. “O projeto macro do bairro realmente foi um pólo de desenvolvimento de uma região. Ninguém esperava que Alphaville crescesse dessa forma”, ressalta Reinaldo. Devido a todo esse crescimento, o bairro passou a enfrentar alguns problemas comuns do não-planejamento urbano. O trânsito, por exemplo, figura entre a principal reclamação entre os moradores e frequentadores do bairro. A Prefeitura de Barueri, cidade onde o bairro está inserido, tem realizado estudos para reverter este quadro com a criação de novas vias de acesso. Há também a questão do saneamento básico, como a falta de tratamento de esgoto em alguns residenciais, que de acordo com a Sabesp, estão sendo resolvidos através de investimentos, além do laudêmio que é pago por se tratar de ex-terras indígenas. Outra queixa comum na região é a acessibilidade, já que muitas ruas e avenidas não contam com acessos que facilitem a locomoção de portadores de deficiência física. Para um bairro que mais se parece com uma cidade, ainda assim, esses problemas não estão há anos luz de serem solucionados, como acontece em outras regiões do país.

aereas_santana_07-06-07-roberto_002

Alphaville tornou-se um dos maiores pólos de desenvolvimento do país

DSC02441

 

Para quem pretende ingressar na carreira de arquitetura, Reinaldo ressalta que além da importância de se manter um bom relacionamento interprofissional que possibilitará uma rede de networking, é importante fazer um estágio em um escritório de arquitetura atuante, para aprimorar-se e estar sempre apto para aproveitar as oportunidades e vencer os desafios da profissão. Pestana inclusive cita o caso da arquiteta argentina Graciela Piñeiro, que começou a trabalhar como estagiária em seu escritório, participando ativamente na criação de Alphaville, Tamboré e Aldeia da Serra, e depois de alguns anos e experiências vividas, partiu para o trabalho independente. Graciela chegou a receber o prêmio de melhor arquiteta de Alphaville. Merecidamente, afinal de contas, ela teve um ótimo professor.  

 

     Em breve, confira aqui na revista eletrônica Paisagismo em Foco, uma entrevista exclusiva com à arquiteta Graciela Piñeiro, que também já participou inúmeras vezes das principais mostras de decoração do Brasil, dentre elas, Casa Cor e Artefacto Beach & Country.